domingo, 25 de outubro de 2009

Don't move



O arco se põe a uma distância razoável do alvo. A flecha está friamente cortante, aguardando os segundos para o disparo certeiro. Nenhuma nuvem, apenas uma leve brisa circundando as folhas verdes. Somente os pés descalços na grama, um pouco sujos, é verdade. A mão esquerda segura a base de madeira, enquanto a direita ajeita a posição. Os olhos, imóveis. A respiração, tranqüila.

O instinto tornaria tudo mais fácil. Quantas vezes o cenário já não foi pintado meticulosamente? O clima sereno, a quietude, a harmonia. Elementos complementares e sinestésicos. Minutos imperceptíveis, de fato. No aguardo final, milhares de sensações se multiplicam e se transformam em arte do amanhã. Lindo é o reflexo do passado no lado de dentro.

Perfeito, nada mais resta além soltar as mãos após segundos de concentração. Os punhos estão razoavelmente firmes. A postura do corpo, impecável. O olhar, voraz – docemente voraz-. Pronto, isto já foi feito algumas vezes, não há como equivocar. Então, no três.

A mente sabe dos perigos, mas não se importa muito. A coerência já deixou de existir há muito. Os conceitos e regras se foram, por sorte. Parece que tudo está sob controle, da maneira mais peculiar que se poderia. Suaves são os acordes desta nova trilha. É progressivo, intenso e pouco programado. No ritmo desacelerado se faz essa leitura. Leitura da vida. Leitura dos sonhos.

Um, dois e...
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Music: Sueño de Tango - Cafe de los Maestros