domingo, 3 de janeiro de 2010

Te peço



Dai-me forças para escrever. Se meu corpo fraquejar e minhas pernas bambearem um pouco, que minha mente esteja leve e firme, novamente. Se me faltar disposição, que faça surgir coragem e imaginação. E, se faltar um pedaço de vontade, que renasça a inspiração.

Dentro do peito conservam-se os momentos que construíram a intensidade. Talvez estejam borrados, ao longe... Mas a raiz continua fincada por detrás da pele. A certeza da vida, como as estações do ano, controla o meu tempo. Tempo de luz, dias de frio, flores verdejantes, escassez acomodada. Na paciência da madrugada, aguardo tranqüilo, gota a gota, a semeadura em traço marcante.

Dai-me atenção. Dai-me perspicácia. Dai-me menos convicção e mais fluidez. O sol não é tão claro quanto o luar. Posso provar que a terra de lá também dá frutos. Quero sentir e me fazer sentido, sem pressa. Quero o poder das minhas mãos, a paixão das minhas palavras. Decifrar e ser indecifrável. Quero desenhar à sombra da multidão...

Arrepia o mistério que me mantém. Toca-me a falta do saber, muitas vezes. Mas, além de tudo, as folhas em preto e branco contornam cada frio na espinha, cada respiro mais fundo. E, confesso, desaponto-me também, não por meus punhos – que por certo me sustentarão-, mas pela chama que deixo à mercê da brisa úmida.

Dai-me, por fim, um eco interminável, uma retumbância eterna. Dai-me tudo o que está além. Dai-me menos de mim... E mais do mundo.
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Music: Prayer - Leela James