Aquela melancolia que machuca, também nos ajuda a criar, ressentir o velho sentido e pulsar. Maldita página virada e desvirada, lida, refletida e que nunca sai da memória. Maldito livro de contos, com final feliz e até que a morte nos separe. E ainda há cartas, aquelas cartas, com segredos sentimentais e...
Mil e algumas noites em claro, cutucando a casquinha que teimava em não cair. Doía feroz, queimava tanto ou mais do que tudo que já me ocorrera, latejava... Passavam-se dias, chegou aos meses e, por menos que pudesse imaginar, o amargo da lua me tomava como a estréia novamente. Fazia um esforço descomunal para relembrar o que havia de esquecer, tomar de volta a ida das dores (que me suportavam), e de longe acenava à incrível lástima que nunca me deixara. Não quero abandonar a inspiração. Não vou abandonar o que ainda me move. Não, por favor, não suma!
Quanto tempo até o apagar da chama? Não duvido a eternidade de quem infelizmente espera. Posso aguardar no ressoar das cordas, na batida arritmada adentrando minhas idéias, vagas idéias, fúteis e pálidas. Pobre inimigo da vergonha que estende a mão em busca de perdão, infiel seguidor de suas próprias palavras, que sustentarão o caminho do incapaz. A flecha fugaz que atravessa meus olhos imóveis avista o mais novo alvo, um pouco distante ainda, um pouco inverso e controverso talvez. Mas quem disse que quero um novo alvo? Por mais que precise nesse momento, não posso ceder à vergonha da desistência. Não hoje.
Toda vez que sinto aquela nuvem formosa e cheia de silhuetas me encobrindo, me trazendo esperança e lágrimas, retorna-me o carinho pelo irreal. A cada ínfimo piscar de olhos ao refletir me surge os passos da criação mais plausível, da frase perfeita, do chão que teima em correr. E a cada cortante ofegar que tremula entre minhas veias, leio, nas duras linhas do destino, os dizeres insolúveis a mim, compreensivelmente previsíveis e rasos. Você incendiou o gélido sangue, que há de queimar a pele e os sentidos que me movem. Minha flor, meu lírio, meu mais doce delírio...
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Music: Back At Your Door - Maroon 5