quarta-feira, 16 de novembro de 2011

23:59




Pensar ao revés. Pequenos blocos compactos de trás pra frente. Faço do final. Não posso afirmar que acabou. É uma espécie de ponto e vírgula. Outra linha escrita da esquerda para a direita. Um conto de réu falido. Escurece e amanhece. Desperto ao deitar-me. Fecho os olhos diante de mim. Não quero mirar o ciclo natural. Sobrepõem-se tons sobre tons. Escuro-claro-claro. Grava-se em metáforas caladas. Some no meu grito.

Construo a partir do sótão. Lá se guarda o desnecessário. Uso a escada para subir. Não há necessidade de nada completo. O sentir minimalista basta. Junta-se em tralhas empoeiradas. Sem verbos de ligação. Soltura de partes encaixadas. Desmonto o destino. Prego peças na vida. Martelo sincero em punho. Cuidado: em obras.

Rabisco que puxa ao meio. Penumbra atravessa o alvo. Multiplicam-se possibilidades no concreto. Circunferência em circunferência. Gris no branco maculado. Sem pontos. Flecha certeira. Outra faixa fincada dentro de mim. Dois feridos.

Últimas. Inversas. Longínquas. Subjetivas. Intensas. Distintas. Confessas. Sonoras.

A mesma.


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Music: Barricade - Interpol

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Mesmo Fim



"Antes das 5 desperta
Levanta-se, mira-se
No espelho
Desconcerta olhos vis
Como os próprios e
De outros
Molha a face cansada
Respinga gota gelada
Em espiral escorre
Pela beirada

Afeita-se em navalha
Pega camisa passada
Mangas ambas
Dobradas, assimétricas
Debaixo começa
Botão, botão, botão
Botão
Respira fundo, estufa
Peito completo
De interrogação

Escolhe as calças
Listras paralelas e
Finas
Uma a uma sobem
Pelas pernas bambas
Desequilibradas
Nelas mesmas
Atrapalham a passada
A passagem ao cinto
Atravessa o quadril esguio
Apertada ao penúltimo
Furo d'alma

Sapatos
Ah, os sapatos
Lustrados, sem um
Risco sequer
E, sim, porque o quis
Mais novo que
Quase todos
Pés alheios das ruas
Apressadas, sem tempo
Em tons de gris
Mescladas por todo
Tudo
E mais

Encontra-se consigo
Conversa com outrem
E estranho parece
Quando se dá bem
Cativa em um
Dois
Três
Pronto, outro âmago
Quase amigo
Nunca amigo
Apaixona-se em seguida
Em segundo
Em partes segmentadas
Que preenchem-se
Sozinhas

Palavra sem gesto
Toque ausente
Guarda baixa
Não dá trégua
Mas fala pouco
Mas fala certeiro
Mas fala
E diz
O que quer se fazer
Escutar
Lá, do fundo
Ouve uma flor
No deserto de
Cores vívidas
Vinda do
Poder
De sua magia

Vai
Continua indo
Até o último
Resquício de fumaça
Que possui seu
Feitiço
De conquistar
Em instantâneo sorriso
Explode, sobe no ar
Deixa marcas
E se apaga

Some devagar
Devagarzinho
Em compasso de
Samba antigo
Na vitrola empoeirada
Encostada na sala
De estar e está
Novamente só
Cheio de si
E nada lhe faz
Mais sentido
Que o próprio carinho."

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Music: Maravilhoso Vagabundo - Cartola e Leci Brandão