domingo, 28 de fevereiro de 2010

Tu-do-den-tro





Eis o poeta acorrentado
Vivendo a correr sentado
Por si só perseguindo
Momentos tais, tantos
Esquecidos na tua
Fuga sentida, sem pressa
Singela, suave e sintética
De mil e alguns pensamentos

Na cabeça coberta em figuras
Prendem-se bordas dobradas
Por mãos feridas, ferozes
Fixadas em Si e mais
Cruzadas em Dó maior na frente
Seguinte, Lá distante, ao centro
Sol se curva atrás

Olhos comuns conferem
Coincidências pouco convictas
Não faz diferença, continuam intactas
Pra quem cria, sem é cem
Diminuem, dividem, multiplicam-se
Afloram, perpetuam e viram miragem
Letras a esmo que continuam
Elasticamente compactas

Luzes acesas, divinos fantoches
Alegram o café corriqueiro
Com sorrisos do olá primeiro
E contagiam no verso do inverso
Na prosa bonita do réu
Confesso das ideias, travesso
Moleque, menino saudoso
Que descreve seu mundo insosso
Em linhas vãs, rumando certeiro

O tempo caminha e consome
A tristeza tratada sem nome
O murmúrio, a lástima e resta
Fé fluída em enxame
Voando fugaz pela fresta
Escute, a beleza não some
Talvez mude, caia, faça crosta
Mas continua sob o pronome
Não confunda, esqueça ou demore
Apenas leia, sinta
Conjuge-me

O poeta não sabe que é capaz
Sua forma é figurada
Borrada em branco giz
Brilhando em negro luz
Acalmado em voz de paz
O poeta se esconde em dois
Madrugando em papel e lápis
Simples no traço, pois
Não teme diante do pós
Ele apenas vai lá
E faz.


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Music: Así Soy Yo - El Cuarteto de Nos

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